Quebradeira de coco solteira, que cedo levanta, passa o café no
velho bule, no fogareiro de barro, utilizando o carvão feito da casca do
coco babaçu. Pega um pano, faz dele uma rodilha, uma proteção para a
cabeça, pega sua "manchada", sua "mancepa" e uma lata de meio quilo,
este último era pra medir a quantia de amêndoa de coco, colocava-os
dentro do cofo e depois sobre sua cabeça, enrolava o vestido para ficar
mais curto e colocava a mão na cintura para servir
de contra-peso.E segue para o mato para juntar coco. Junta um, dois, um
aqui outro acolá, enche o cofo até transbordar, procura um local e os
despeja, ficando um sobre o outro formando uma ruma. Ao terminar de
juntar o coco, ela pega um tronco forte cortado ou raiz de mangueira ou
de cajueiro, prega a "manchada" sobre o tronco com auxílio da "mancepa",
espécie de martelo de madeira, e assenta sobre o chão. E começa a
quebrar, em suas mancepadas, inicia uma de suas cantorias para ver o
tempo passar ligeiro. Como passa-tempo aquelas cantigas de caixa eram as
que se sobressaiam e lhe davam companhia naquele dia. Colocava as
amêndoas dentro do cofo e as cascas do lado, estas iriam mais tarde para
a caeira, um buraco feito para queimar as cascas transformando-as em
carvão, que mais tarde também serveria tanto para usar no preparo da
alimentação, quanto para vender. A quebradeira já de costas doídas
daquele dia inteiro de batalho, chega em casa com seu cofo de amêndoas.
Uma parte para venda, outra para alimentação das criações e para a
fabricação do azeite. Ela separa as da venda, soca no pilão as amêndoas
que irá utilizar em casa, uma parte do bagaço serve de alimento para as
galinhas caipiras, a outra vai para o caldeirão, que logo transformará
em azeite. O leite de coco para engrossar o caldo do peixe consertado em
tic tic e também para ajudar na fabricação dos deliciosos bolos de
tapioca. Das cascas ela retira o fubá para fazer mingau para as crianças
menores da casa. E coloca na caeira o restante, ascende a caeira, cobre
com as pindobas, palhas verdes de babaçu, e bastante terra, para
abafar. E aguarda que o fogo faz sua parte. No fim do dia ela retorna
para tirar o carvão. Leva para casa os cofos fardos, e a casa enche de
alegria. Prepara o mingau para os menores dormirem. E na ceia da noite
prepara a mesa com aquele peixinho gostoso da água doce, e de sobremesa
aquele café cheiroso, torrado com erva-doce, com o delicioso bolo de
tapioca, digno de uma mulher guerreira. E assim é a história que se
inicia dia após dia.
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