quarta-feira, 10 de maio de 2023

O paradoxo do olhar

Ahhh, vejamos a condensação do vapor da água da atmosfera que se deposita em gotículas sobre superfícies horizontais e resfriadas, o orvalho fisicamente estático e indiferente que chega com o resfriar do dia. Frequente das madrugadas são percebidas nos espelhos de retrovisores, nos vidros e parabrisas, superfícies metálicas, cerâmica de telhados, no gramado e na imagem clássica revelada como gotículas depositadas nas folhas. Seria então redundante o convite ao resgate de suas imagens mentais gravadas pela sua própria experiência, uma vez que no início da leitura o fenômeno fático já o encarregaria da busca espontânea. O contato com este fenômeno da natureza é um olhar muito pessoal e de sensações próprias de cada literal momento que modifica suas percepções segundo seu estado de bem estar. Apesar da imagem física estática aquele momento pode revelar-se extasiante para alguns ou mórbido para outros.

Migremos para a imagem da cerração, nevoeiro, neblina, garoa, ou outra denominação regional caraterizada pela imagem de uma espessa fumaça majoritariamente intermitente entre as fases mais densas que impedem totalmente a visualização e as fases mais rarefeitas que ofuscam as imagens da vegetação e o relevo.

Se o orvalho é desafiador aos apreciadores da arte da fotografia, a captura da diversidade de possibilidades permitidas pelo nevoeiro próprio das noites, madrugadas ou cedo amanhecer, não é tarefa fácil, principalmente àqueles que não dispõem de equipamentos adequados, gerando verdadeiro tédio pela disparidade da beleza capturada pelo olhar em detrimento daquela ofuscada imagem revelada nas câmeras.

Ainda muito cedo, ao leve clarear dos primeiros raios do sol do amanhecer consolidando a dádiva de mais um dia para contemplar, surge outra oportunidade inebriante merecedora de captura pelas retinas mais apuradas ou pelas surpreendentes lentes profissionais.

Momentos comuns das primeiras partes do dia, mas ainda na frieza do mesmo, temperatura atrativa para uns e insuportáveis à outros, instantes em que a claridade ainda suave é também dicotomicamente  apreciada. Imagens que provocam o desejo de apreciação àqueles que gozam de uma áurea própria do bem estar, mas que não surtem tão apetecíveis àqueles enfermos físicos, mentais ou espirituais.

Portanto, aproveite para apreciar até a mais singela beleza própria de cada momento, de cada lugar, pois a percepção das belezas são inerentes e próprias de suas fases sensoriais.

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